Ocupar pelo direito de morar!

Quando me chamaram pra participar da ocupação de um prédio na região portuária do RJ não pensei duas vezes. O lugar, um antigo hotel abandonado há 14 anos, há mais de 10 era reivindicado para construção de apartamentos populares. Com o intuito de pressionar essas negociações, diversos movimentos sociais se uniram e articularam a ocupação do prédio.

Nosso encontro foi à meia noite na Rodoviária Novo Rio, em meio a tantas pessoas com malas e mochilas, nosso plano não levantava suspeitas. Às 3h partimos andando em direção ao antigo hotel no Morro do Pinto e numa ação rápida entramos no prédio que contava apenas com uma televisão ligada: o segurança havia saído pra dar uma volta. Em poucos minutos diversos pontos de luz e tomadas foram instalados, fogão e botijão de gás apareceram trazidos por uma kombi, água, alimentos... um mutirão de limpeza já organizava a área e reforçava os portões, nunca vi um lugar se transformar em tão pouco tempo, e então entendi o quanto esse prédio era importante para aquelas pessoas.

Junto com o sol, chegaram os funcionários da empresa de segurança, nossa segunda visita da manhã foi a PM com toda agressividade que lhes sobra, depois foi a vez da polícia federal com toda educação que fingem ter. Em todos esses momentos de tensão as lideranças dos movimentos se mantiveram calmas e firmes, discutindo, negociando e apresentando toda legalidade daquele ato de ocupar, isso me chamou atenção para o quanto é importante estudarmos e conhecer a fundo cada detalhe das causas que defendemos.

Após as visitas matinais o dia seguiu tranquilo, muitos apoiadores chegaram para somar forças, muitas reuniões, análises, conversas, doações de alimentos e água. O prédio tinha eletricidade, mas não possuía água, e são momentos assim que nos fazem dar valor às pequenas coisas da vida como abrir sua torneira e ter água abundante.

Sonhos e planos borbulhavam na cabeça e no coração daquelas pessoas maravilhosas. E assim, no dia 15 de janeiro de 2016, nascia a Ocupação Vito Giannotti que segue firme até os dias de hoje, um sopro de força e esperança na "cidade maravilhosa".